Musics...

3 de maio de 2010


Dança de Lágrimas

Tecem caminhos, descem pela minha face em grupo para me morrerem nos cantos da boca, bailam ao som dos soluços e dos gritos silenciosos da minha alma. Dançam baixinho para que ninguém ouça os seus movimentos, de vez enquando ainda se deixam pausar nos cantos dos olhos, ficam ali alguns minutos para depois cairem rapidamente rosto abaixo e já nem os soluços lhes servem de ritmo, nessa hora só querem cair com o corpo que fraco se estende neste chão de medos. Dançam ao bater acelerado do coração, mesmo ao anestesiante bombar do sangue nas veias, são fruto de muitas danças interiores, bailes inteiros de sentimentos que se misturam e co-habitam fraternos. As vezes a mão não as deixa dançar à vontade e tem necessidade de as limpar antes que cheguem aos cantos da minha boca, faz parte da dor, faz parte do sofrimento ter esta mão no rosto a limpar as lágrimas, um gesto prodigioso. Ver depois as lágrimas secarem aos poucos na mão que as esmagou, ver depois o sol secar as lágrimas que não acompanharam a dança até ao fim e ainda me ficaram na face. Dança das lágrimas, pausada, celestial, angelical...


Eu sou o Sol que aquece a vida, em nome da Vida que criou o Sol.
Sou eu quem reverdece o campo em beijos cálidos após a demorada invernia.
Eu sou a força que sustenta as criaturas tombadas, a fim de que se ergam, e as desiludidas, para que recomecem a faina do próprio crescimento.
Eu sou o pão que alimenta os corpos e as almas, impedindo-os de experimentar deperecimento.
Sou eu a música que enternece o revoltado, e sou o poema de esperança que canta alegria onde houve devastação.
Por onde eu passo, um rastro luminoso fica vencendo a sombra que cede lugar à claridade libertadora.
Eu sou omedicamento que restaura as energias combalidades, e sou o bálsamo que suaviza o ardor das chagas purulentas que levam ao estertor e à alucinação.
Sou a gentileza que ouve pacientemente a narrativa do sofrimento e nunca se cansa de ser solidária, conquanto a aflição que se espraie entre as criaturas.
Eu sou o fermento que leveda a massa e dá-lhe forma para aprimorar-lhe o sabor.
Sou eu a paz que visita a charneca, adornando-lhe a paisagem lúgubre.
Eu sou o perfume carreado pela brisa mansa para aromatizar os seres e o vergel.
Sou eu a consolação que cicia palavras de fé aos ouvidos da amargura e soergue aqueles que já não confiam em ninguém, aturdidos pelas frustrações e feridos pelas dores excruciantes.
Eu sou a madrugada que ressuscita todos aqueles que são tidos como mortos ou que estão adormecidos, a fim de que possam voltar ao convívio dos familiares saudosos e em angústias devastadoras.
Sou eu a água refrescante que sacia a sede de todas as necessidades e limpa as sujidades da alma deteriorada, preparando-a para os renascimentos felizes.
Eu sou o hálito divino sustentando a criação e penetrando por todas as partículas de que se constitui.
Comvido minha irmã, a Fé, para que ofereça resistência ao viajor cansado e o alente em cada passo, concedendo-lhe combustível para nunca desistir.
Eu me apoio na irmã Esperança, que possui o encanto de reerguer e amenizar a aspereza das provações.
Quando elas chegam, o prado queimado se renova, porque se me associam, fazendo que arrebentem flores e frutos onde a morte parecia dominar. ..
As duas, a Fé e a Esperança, constituem os elementos vitais da minha alma, a fim de que permaneça conduzindo todos os seres.
O Senhor enviou-me em Seu nome, com a missão de lembrar a Sua presença no mundo, desde quando me usou para que as criaturas que lhe desafiaram a Justiça e a Misericórdia, pudessem recomeçar o processo de evolução.
Vinde comigo ao banquete suntuoso da ação contínua do Bem e embriagai-vos de felicidade.
Eu sou a caridade!

(Luzes do Alvorecer, cap. 27, psicografia de Divaldo Franco)